Faire avec é uma expressão francesa que tem em português o sentido de “aceitação” ou “resignação” – “faz-se como dá”. Porém, em sentido literal, “faire avec” é, também, “fazer em conjunto”. O duplo significado da expressão remete, portanto, para o entendimento do cineasta Éric Baudelaire sobre o trabalho criativo como algo necessariamente colaborativo. Os filmes do realizador são, frequentemente, realizados com as pessoas cujas experiências examinam – cineastas e revolucionários, estudantes adolescentes, independentistas e terroristas –, todos eles desafiando as instituições do Estado que se arrogam o direito de definir a realidade. Faire Avec... é, assim, o título para um programa onde se faz o elogio dessas parcerias com os sujeitos filmados, através do reconhecimento de uma outra forma de parceria, a da equipa por detrás dos filmes. Éric Baudelaire “faz cinema com” a diretora de fotografia Claire Mathon e a montadora Claire Atherton. Deste triângulo criativo nasceram três filmes, produzidos ao longo da última década, que se apresentam agora no Porto/Post/Doc: Also Known as Jihadi (2017), Un film dramatique (2019) e, mais recentemente, Une fleur à la bouche (2022). Faire Avec... é, então, um programa onde se celebra a amizade e o trabalho em parceria e, por isso mesmo, além da apresentação dos referidos três filmes feitos a seis mãos, mostram-se igualmente duas obras maiores da história do cinema que os inspiraram (e inspiram ainda): D’est (1993), de Chantal Akerman, e Stalker (1979), de Andrei Tarkovski. Ainda no âmbito deste programa, Eric Baudelaire apresentará uma masterclass onde dará a conhecer os seus métodos de trabalho… colaborativo.
Éric Baudelaire, formado originalmente em ciência política, vem desenvolvendo uma obra (composta por sete longas-metragens e várias curtas) que se baseia na investigação como ferramenta política e poética para desafiar as estruturas de poder, através de um cinema que explora a – e é criado na – intersecção da realidade com a sua documentação. Este percurso cruza-se com o de Atherton, que montou quase todos os filmes de Chantal Akerman a partir de meados dos anos 1980 (além de trabalhar em dezenas de outros filmes, entre eles títulos de Apichatpong Weerasethakul ou Wang Bing), e o de Mathon, que faz regularmente a fotografia dos filmes de Céline Sciamma, Alain Guiraudie ou Maïwenn (tendo trabalhado com Alice Diop, Pablo Larraín, Mati Diop ou Louis Garrel).
FAIRE AVEC...
Also Known as Jihadi
Éric Baudelaire, 2017, 102' DOC
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Un film dramatique
Éric Baudelaire, 2019, 114', DOC
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Une fleur à la bouche
Éric Baudelaire, 2022, 67', FIC
TRAILER
D’est
Chantal Akerman, 1993, 110', DOC
Stalker
Andrei Tarkovski