Foi sucessivamente anunciado o fim da história, das ideologias, do tempo e até do mundo, arrastando consigo a vida e a morte das cidades que, de abandonadas, depois, edificadas, arrasadas, prometidas ou sonhadas, renasceram e transformaram-se em mundos imaginados, histórias recontadas e revoltas mais ou menos cumpridas.
Mas os gonzos visuais, as configurações cinemáticas, a abrangência paisagística, e até atmosférica, das cidades, são hoje desafiados. Corredores verdes que ligam os centros às periferias, elevadores e teleféricos para turistas, ciclovias e tímidos acenos aos conceitos eco-friendly ou smart city: a cidade do depois é tudo isto. Depois da emergência climática, mas também da emergência migratória, da urgência turística ou da indigência sub-proletária, que circula já sem sem bairro, sem pertença alguma. Neste intenso agora, que é sempre o tempo do depois, as cidades já não são abrigos, deixando, inexoravelmente, sem-abrigo os mais vulneráveis dos seus cidadãos. Sem sonho que abrigue, sem utopia que abrigue, sem urbanidade que abrigue: o que nos mostra da cidade o cinema?
A cinecittà é a possibilidade de um mundo inteiro e os cidadãos, por muito confinados que estejam, são pontos brilhantes de luz que animam a vida, seja na música de uma utopia Byrne, no reviver das sublevações anti-racistas de Martin Luther King ou nos subúrbios de Lisboa e de L.A. pelos passos de Ventura e de Stan.
De 20 a 29 de Novembro, o Porto/Post/Doc volta a ocupar vários espaços da cidade (Teatro Municipal do Porto - Rivoli, Cinema Passos Manuel, Planetário do Porto - Centro de Ciência Viva e Escola das Artes - UCP). E porque novos tempos exigem adaptações, pela primeira vez, o festival apresenta uma parte da programação em plataformas online.
A edição de 2020 conta com os apoios da Câmara Municipal do Porto e do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) - Ministério da Cultura e do mecenato da Fundação “la Caixa”/ BPI, além de várias outras parcerias imprescindíveis à realização do festival.