Através de um périplo pelo Canadá, Europa (com passagem por Portugal) e Ásia, o filme de Pedro Ferreira, acompanhado pela voz e texto de Assunta Alegiani (em off), interroga o termo mais corrente e simultaneamente mais equívoco dos nossos tempos. “Globalização” é, pois, o conceito que, em modo ensaístico, Alegiani vai analisando criticamente, ora fazendo reflexões pessoais (até biográficas), ora recorrendo a ideias de pensadores diversos como Minh-ha ou Marc Augé, este último particularmente relevante pela ligação dos não-lugares (conceito por si cunhado) às próprias imagens que vemos de estações de comboios ou aeroportos. O controlo e a privacidade (será que ainda podemos pronunciar esta palavra sem darmos uma gargalhada a seguir?), a desigualdade Norte/Sul e o “neocolonialismo”, o consumo acelerado e acrítico de informação disfarçado de “cultura” ou o aumento da comunicação e a paradoxal solidão a ele associada são algumas das questões contemporâneas (se bem que sempiternas) revisitadas e que, sobretudo nos momentos em que são acompanhadas das imagens filmadas no avião, “acima das nuvens”, adquirem uma dimensão um tanto ou quanto “atmosférica”, quase poética, como se apenas mantendo esse distanciamento do mundo, olhando-o a milhares de pés de altitude, o pudéssemos verdadeiramente compreender. (Francisco Noronha)