De que lugar podemos falar hoje do cinema espanhol contemporâneo? Para além da nacionalidade de cada cineasta, do local de produção ou de rodagem, os filmes pertencem ao país imaginário do cinema. Agora; da mesma forma que nem toda a escrita é literatura, nem todo o filme é cinema. Onde colocamos então a bússola para perceber algo sobre o que significa falar de um cinema que vem de Espanha?
Estes seis filmes dialogam entre si através do pacto íntimo e inquebrável que mantêm com as suas personagens. A necessidade de dar a mão quando choram e de segurar o cabelo enquanto vomitam. O mesmo acontece com dar-lhes espaço para gritar e se perderem em si mesmos. Porque, no fundo, é disso que todo o ser humano precisa. Ter a hipótese de ser quem realmente é. Também os cineastas. Também os espectadores.
É evidente que em todas as visões também há conflito, também há violência. No entanto, é importante, também do cinema, não se entusiasmar muito com ele nem desenhar mitologias exaltadas em sua homenagem. O cinema deve poder ser um espaço seguro para todos os seres que o habitam. Explorar e perder-se, mas podendo sempre reconectar-se com o corpo, a partir da poltrona. Poder emocionar-se ao passar por ansiedades, angústias e gritos, mas sempre a partir do lugar mais honesto e benevolente possível.
Felizmente podemos celebrar vários filmes espanhóis realizados por cineastas. Não são cineastas que se dedicam a executar e transpor conceitos para o ecrã. Os cineastas que aqui apresentamos abraçam a incerteza e, por conseguinte, também a cinematografia. Cada um com a sua abordagem. E é estimulante ver o que propõem porque o que oferecem não são particípios, mas gerúndios. Em cada um destes filmes há também um vislumbre da promessa do que virá a seguir.
Embora as categorias canónicas possam simplificar a tarefa, decido não seguir esse atalho. Na superfície destes sete filmes pode ler-se a palavra ficção, documentário ou ensaio cinematográfico. Mas tudo é mais complexo, tudo é mais intrigante do que isso. Cada um destes filmes é marcado por desvios e divagações que os levam a percorrer diferentes estratos. São precisamente estes mistérios que promovem estes filmes como organismos vivos.
Não deixa de ser curioso que este cinema contemporâneo procure, cada vez mais, encontrar um ponto de apoio para contemplar a vida. A necessidade de encontrar um reflexo, cada um no prisma do seu espelho, para se distanciar da vida e poder olhar. Afinal.
Talvez a chave de tudo esteja aí, em encontrar uma espécie de caos que nos permita alcançar a liberdade. Talvez a Espanha seja o pretexto, talvez a Espanha seja o vértice possível sobre o qual se sustenta este cinema em movimento.
A nuestros amigos, Adrián Orr
Espanha, Portugal, DOC, 2024, 90'
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For Here Am I Sitting In A Tin Can Far Above The World, Gala Hernández López
França, DOC, 2024, 19'
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La Hojarasca, Macu Machín
Espanha, DOC, 2024, 72'
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La Parra, Alberto Gracia
Espanha, DOC, 2024, 90'
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Las Novias Del Sur, Elena López Riera
Espanha, Suíça, DOC, 2023, 39'
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Strata Incognita, Jorge Valiente Oriol, Amaia Sánchez-Velasco, Romea Muryn, Francisco Lobo
Portugal, Espanha, DOC, 2024, 16
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