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66 kinos, ao correr do tempo

por Vítor Ribeiro / 13 05 2018


Sobre "66 Kinos", de Philipp Hartmann 
(Parceria com Goethe-Institut PortugalDAAD)

O documentarista Philip Hartmann articulou com o seu distribuidor uma digressão pela Alemanha para mostrar o seu mais recente filme, "O Tempo Passa como um Leão que Ruge" (2013). Uma viagem de 20.000 quilómetros que atravessa uma paisagem de salas de cinema, em multiplexes, teatros municipais, associações, universidades e escolas de arte e uma projecção na praia: 66 cinemas, o titulo do filme.

Lembramos que "O Tempo Passa como um Leão que Ruge" é um filme-ensaio sobre um realizador de meia idade que sofre de cronofobia e que procura, então, uma reconciliação com o correr do tempo. Enquanto mostrava um filme, Hartmann construía outro, e grande parte dos entrevistados e dos espaços deste mapa de salas poderia figurar na tela desse filme-ensaio, na dificuldade em aceitar uma cronologia particular, a da transição da película para os formatos digitais. Há salas que preservam uma solenidade, em extensas plateias sob balcões, com poltronas de veludo, candeeiros de lustre e cortinas que ocultam o ecrã; nas régies, já com projectores de digital instalados, pois as cópias em película desapareceram do circuito de distribuição, acumula-se memorabilia, matéria em tempo de digital: projectores de película, bobines, cartazes, livros, catálogos de festivais, cassetes VHS.

Os locais e os relatos são pedaços da história do cinema, de revisitação do século XX, pelo que a cinefilia empurrou-nos para "Ao Correr do Tempo" ("Im Lauf der Zeit", 1975), errância ao longo da fronteira com a RDA, um protagonista que reparava projectores de cinema, que Hartmann valida ao incluir um plano do filme de Wenders. Mas "66 Kinos" supera a nostalgia, a já prescrita morte do cinema, uma arte calejada a enfrentar as inovações tecnológicas, na crença de continuar a dar a ver, um diálogo com a comunidade entremeado por cafés e bares, que aponta cenários de futuro, como salas mais pequenas ou exibições em contexto museológico. A última cena apresenta planos de várias audiências: e a vida continua… 

Vítor Ribeiro
Programador do CLOSE-UP - Observatório de Cinema de Famalicão

 


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