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Porto/Post/Doc assinala 50 anos do Hip Hop com programa especial

por Porto/Post/Doc / 29 10 2023


Quando me foi feito convite para integrar, como curador, o programa de homenagem aos 50 anos do Hip Hop do Porto/Post/Doc, soube, de imediato, o que queria focar. Entendo o Hip Hop como algo bem maior do que apenas um género musical. É um fenómeno cultural de raiz urbana, dinâmico e em constante transformação, que abarca inúmeras disciplinas e cujas ramificações se estendem a várias esferas da nossa sociedade atual (arte, moda, publicidade, cinema, etc.). Tentei que esta riqueza, diversidade e dinamismo próprios da cultura Hip Hop estivesse bem representados nos títulos que escolhi para integrar este programa. Ao longo de cinco décadas, acumulámos um grande número de produções documentais, e não há dúvidas que se poderiam construir outras listas de títulos igualmente válidas. Compilei nesta secção alguns documentários que podem ser considerados canónicos (Style Wars de Tony Silver) e produções novas que cobrem muitas facetas desta cultura. O papel fundamental da rádio independente na difusão do Hip Hop desde a sua origem (Stretch and Bobbito: Radio That Changed Lives, de Bobbito Garcia), a importância da samplagem e a construção do beat, entendido como a pulsação constante sem a qual este organismo não poderia existir, o cruzamento entre a rua e o romantismo R&B e a referência a um dos melhores álbuns da história do género (Nas. Time is Illmatic, de One9). Também quis adicionar a esta lista um olhar contemporâneo sobre as novas encarnações do género (trap) com um excelente documentário centrado na malograda figura de Lil Peep, produzido por Terrence Malik (Lil Peep. Everybody’s Everything, de Sebastian Jones, Ramez Silyan). 

Estes e mais alguns dos títulos que considero de visionamento obrigatório para qualquer amante da cultura Hip Hop, entram nesta seleção especial feita a pensar no Porto/Post/Doc. Espero que desfrutem deles tanto como eu desfrutei da primeira vez que os vi. Encontramo-nos no cinema! 

Guille de Juan

PROGRAMA HIP HOP 50: UMA CELEBRAÇÃO

Lil Peep: Everybody's Everything 
Sebastian Jones, Ramez Silyan, EUA, Reino Unido, 2019, DOC, 115’
18 SÁB, 21:30, PASSOS MANUEL
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Em menos de cinco anos, Lil Peep passou do underground a estrela da música e ícone da moda. O seu estilo inclassificável (uma combinação improvável de punk, emo e trap) destinava-se a transformar a música mainstream. Mas Lil Peep morreu de overdose em 2017, aos 21 anos. Na véspera publicou no Instagram a frase “I just wanna be everybody's everything”. Este documentário, produzido por Terrence Malick, é um retrato tocante e brutalmente humanista de um rapaz que procurou mudar o mundo através da música. 

Nas: Time Is Illmatic
One9, EUA 2014, DOC, 74’
21 TER, 21:30, PASSOS MANUEL
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Na história do Hip Hop há um antes e um depois de “Illmatic”, o álbum de estreia de Nas, lançado em 1994. O rapper elevou a um outro nível a escrita das letras e da crueza do retrato de uma vida suburbana na costa oeste dos EUA. O documentário Nas: Time Is Illmatic foi lançado no vigésimo aniversário do álbum e contou com a participação do próprio Nas e do seu irmão, que regressam ao bairro que os viu crescer para assim descreverem o percurso de ascensão crítica e libertação da pobreza através da música. O filme conta ainda com a participação de músicos como Pharrell Williams, Alicia Keys, Q-Tip e Busta Rhymes.

Style Wars
Tony Silver, EUA 1983, DOC, 69’
22 QUA, 15:00, BATALHA 1
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Style Wars é o filme seminal sobre a arte do graffiti (referindo-se também ao rap e à breakdance), não só porque documenta um momento particular da arte urbana de Nova Iorque, como capta o ar dos tempos de um movida social e artística que viria a transformar o rosto das cidades, um pouco por todo o mundo. A análise do fenómeno é entendida de uma forma multifacetada, dando voz aos graffiters, mas também ao mayor de então, Ed Koch, que defendia penas de prisão para os artistas. Por isso mesmo, apesar de ser originalmente produzido para o canal público de televisão PBS, viria a receber o prémio de melhor documentário no festival de Sundance.

Freestyle: The Art of Rhyme 
Kevin Fitzgerald , EUA, 2000, DOC, 72’
23 QUI, 23:30, PASSOS MANUEL
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Freestyle. The Art of Rhyme aborda uma das formas mais puras do Hip Hop, os desafios de rap improvisado. O filme descreve a travessia de MC Supernatural e as suas épicas batalhas de rap freestyle, em particular com o seu arqui-inimigo das letras e batidas, Craig G, dos Marley Marl Juice Crew. O realizador Kevin Fitzgerald inclui ainda (a partir de materiais de arquivo) participações de Mos Def, Wu-Tang Clan e The Notorious B.I.G. e conta com os comentários históricos de um dos Last Poets, o lendário Abiodun Oyewole. Um retrato vibrante sobre a força da poesia oral como forma de afirmação política.

Stretch and Bobbito: Radio That Changed Lives 
Bobbito Garcia, EUA, 2015, DOC, 99’
23 QUI, 15:00, BATALHA 1
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Em 1990 começou a ser emitido em Nova Iorque o “The Stretch Armstrong and Bobbito Show”, um programa de rádio underground dedicado ao Hip Hop. Este era um espaço de resistência à progressiva comercialização do Hip Hop nas rádios mainstream, onde se apresentavam vários artistas não vinculados a qualquer editora, raridades dos anos 1970, batalhas de freestyle ao vivo e sessões de scratch. Foi nesse programa que Stretch e Bobbito “descobriram” uma série de músicos que se afirmaria no final da década de 90, entre eles Eminem, Jay-Z, Big L, Big Pun, Fat Joe ou Wu Tang Clan. Realizado pelo próprio Bobbito, o filme conta a história do “melhor programa de rádio do mundo”, como lhe chamou Nas.

Não Consegues Criar o Mundo Duas Vezes
Catarina David, Francisco Noronha, Portugal, 2017, DOC, 155’
25 SÁB, 14:30, BATALHA 1
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Neste filme dedicado à história do hip hop no norte do país, particularmente no eixo Porto-Gaia, as palavras comandam a ação, lembrando o rumo seguido. A partir de uma coletânea de entrevistas com figuras envolvidas nos primeiros passos deste género, como os membros dos Mind da Gap ou Dealema, traça-se um percurso de descobrimento e deslumbre. Depoimentos que recordam as primeiras façanhas, as amizades criadas e rimas inventadas, são ajudadas por imagens de arquivo que evocam a influência que o género foi conquistando. Ao revisitar alguns dos espaços míticos que sobrevivem na memória, recorda-se com orgulho um momento irrepetível.


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