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Competição Internacional Porto/Post/Doc 2023

por Porto/Post/Doc / 26 10 2023


Em 2023, a principal competição do festival regressa com dez longas-metragens. Entre o registo documental e a ficção, este conjunto de filmes permite uma viagem intercontinental pela diversidade contemporânea das paisagens sociais e políticas, permitindo um olhar panorâmico sobre os nossos dias.

COMPETIÇÃO INTERNACIONAL PORTO/POST/DOC

Ciompi
Agnès Perrais, França, 2023, DOC, 83’
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Em 1378, na cidade de Florença, os trabalhadores pobres da indústria da lã revoltaram-se contra os seus patrões. A chamada “luta dos Ciompi” foi uma das primeiras lutas operárias na Europa e acabou por modificar a governação da cidade. A realizadora Agnès Perrais olha para este episódio histórico a partir do contributo do historiador militante que o identificou (Alessandro Stella) e da atual situação dos operários da indústria têxtil que, mais uma vez, lutam por melhores condições de trabalho. Filmado em película Super 8 e de 16mm, Ciompi é um ensaio trans-histórico onde o passado colide com o presente, e desse choque nasce a força do proletariado. 
Ciompi estreou no festival Cinéma du Réel.

Bye Bye Tibériade
Lina Soualem, França, Bélgica, Palestina, Catar, DOC, 2023, 80’
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A atriz Hiam Abbass fez a sua carreira de cinema entre França e os Estados Unidos. Trabalhou com Spielberg em Munique ou com Denis Villeneuve em Blade Runner 2049, sendo mais conhecida pelo seu papel de Marcia Roy na série Succession. A bem da sua carreira, deixou a sua família e o seu país aos 23 anos, mas anos depois começou a visitar a sua aldeia natal, na Palestina, juntamente com a filha, Lina Soualem. A filha tornar-se-ia realizadora e com base nos filmes de família, feitos nas férias de verão, construiu Bye Bye Tibériade, um documentário íntimo que descreve o encontro de quatro gerações de mulheres e as suas histórias de separação.
Bye Bye Tibériade estreou no festival de Veneza, na secção paralela Giornate degli Autori, e teve a sua estreia internacional no festival de Toronto.

In the Rearview
Maciek Hamela, Polónia, França, Ucrânia, DOC, 2023, 84’
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Quando a fase mais recente da Guerra da Ucrânia começou, o realizador polaco Maciek Hamela pegou numa carrinha e, com a ajuda doutros voluntários, começou a evacuar pessoas que fugiam das zonas de combate. In the Rearview traduz esta qualidade dupla, ele conduz as pessoas (em viagens sucessivas) através de campos minados e postos de controlo militar e filma as várias viagens a partir do espelho retrovisor. A sua carrinha é, assim, um hospital, um abrigo, um local de partilha e de reunião de um país em estado de sítio. Um filme que entende que o cinema pode fazer a diferença, mesmo que seja só para cinco pessoas de cada vez. 
In the Rearview estreou no festival de Cannes, na secção ACID.

El eco
Tatiana Huezo, México, Alemanha, 2023, DOC FIC, 102’
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El Eco é o nome de uma pequena aldeia no norte do México. A realizadora Tatiana Huezo passou um ano junto desta comunidade e acompanha três famílias: jovens mães, muitas crianças, uma avó muito frágil e uma série de pais ausentes, quase todos trabalhadores da construção civil que partem por longas temporadas. O que a documentarista encontra e encena é uma pequena sociedade matriarcal construída em relação umbilical com a natureza e em torno da ideia de transmissão (das práticas agrícolas, dos gestos, da língua, do modo de cuidar dos vivos e dos mortos) – tudo isto numa região conhecida pelo grande número de raptos de mulheres e crianças.
El eco estreou no festival de Berlim, onde recebeu o prémio de Melhor Realização da secção Encounters e o prémio de Melhor Documentário do festival.

Landshaft
Daniel Kötter
Alemanha, Arménia, 2023, DOC, 96’
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Na sequência da queda do regime soviético, um conflito pelo controlo da região de Nagorno-Karabakh opôs o Azerbeijão à Arménia, tendo em 2020 havido uma guerra (a Guerra dos 44 dias) em que o Azerbeijão tomou conta da província em disputa. Em Landshaft, o realizador Daniel Kötter filma um road movie que percorre a fronteira da contenda, desde o Lago Sevan às minas de ouro de Sotk. Através de uma paisagem inóspita, entre lagos e montanhas, o realizador vai-se cruzando com os habitantes da região que esperam, ansiosamente, o fim do conflito. Em setembro de 2023, o cessar-fogo foi quebrado pelo Azerbeijão numa violenta ofensiva militar.
Landshaft estreou no festival Visions du Réel.

A los libros y a las mujeres canto To Books And Women I Sing
María Elorza , Espanha, 2022, DOC, 72’
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Neste filme, “literatura” rima com “mulher”. A primeira longa-metragem da realizadora María Elorza é uma ode a quatro mulheres que encontraram no prazer dos livros e da leitura uma forma de resistência à ignorância e ao fanatismo. Uma delas andou com uma biblioteca no banco de trás do carro, outra partiu um dedo quando lhe caiu uma estante em cima e outra lia para as operárias da indústria do tabaco. Um conjunto de histórias que nos são contadas através de uma plêiade de materiais (entrevistas, imagens de arquivo, fotografias, pinturas, filmes de família, intertítulos, canções e excertos de filmes) com um intuito simples: revelar o papel civilizador da mulher na sociedade contemporânea.
A los libros y a las mujeres canto estreou no festival de San Sebastian e teve a sua estreia internacional no festival de Roterdão.

Up The River With Acid
Harald Hutter, França, 2023, DOC, 63’
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O realizador canadiano Harald Hutter, que vive e trabalha há vários anos em Paris, vem desenvolvendo um trabalho de enorme simplicidade e ternura, que encontra na efemeridade do suporte em película a fugacidade dos gestos do dia-a-dia. Na sua estreia na metragem longa, o cineasta optou por filmar o que lhe era mais próximo: a mãe (Francine-Y Prévost) e, especialmente, o pai (Horst Hutter). Filmado ao longo de apenas dois dias, acompanhamos os passos de um professor reformado que começa a revelar os primeiros sinais de demência e da sua mulher, cuidadora informal e poeta. As palavras dela juntamente com a delicadeza das imagens do filho compõem um retrato tocante de um homem que desaparece.
Up The River With Acid estreou no festival Cinéma du Réel onde recebeu o Grande Prémio da Competição Internacional.

Between Revolutions
Vlad Petri, Roménia, Croácia, Catar, Irão, 2023, DOC, 68’
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Zahra e Maria conheceram-se na universidade quando estudavam medicina em Bucareste no final dos anos 1970. Zahra regressa ao seu país de origem, o Irão, e Maria fica na Roménia. A partir daí inicia-se uma troca de cartas que acompanha a deposição do Xá e a consequente revolução islâmica e, paralelamente, a progressiva degradação do império soviético e a abertura aos valores ocidentais. Duas mulheres e dois países a rumarem em sentidos opostos. O realizador Vlad Petri conta-nos esta história inteiramente a partir de imagens de arquivos; uma história de amizade, verve revolucionária, insubmissão feminista, desilusão e saudade.
Between Revolutions estreou no festival de Berlim, na secção Forum.

While the Green Grass Grows
Peter Mettler, Suíça, Canadá, 2023, DOC, 166’
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Em 2017 o Porto/Post/Doc apresentou um Foco dedicado ao trabalho de Peter Mettler. No ano seguinte o festival apresentou Becoming Animal e de lá para cá o realizador não havia mais feito cinema, dedicando-se às práticas do cinema expandido, dos mix media e da fotografia. Eis senão quando ressurge com o monumental While the Green Grass Grows, montado a partir de um diário filmado que o realizador vem compondo há quase uma década (e que corresponde aos primeiros dois tomos, de um total de sete, do que será um filme com mais de 12 horas). Um objeto ensaístico e intimista que se reinventa a cada instante, mudando de tom, de tema e de abordagem como numa conversa livre e solta. Um filme inclassificável de um cineasta sem freios.
While the Green Grass Grows estreou no festival Visions du Réel, onde recebeu o Grande Prémio da Competição Internacional.

Anqa
Helin Çelik, Áustria, Espanha, 2023, DOC, 91’
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A artista interdisciplinar curda Helin Çelik assina a sua segunda longa-metragem, Anqa, na qual três mulheres encontram, na intimidade de um apartamento, um espaço de refúgio: todas elas sofreram na pele os horrores da guerra na Jordânia e é na partilha que encontram uma qualquer forma de terapia. Não se trata tanto de denunciar os crimes e expor os traumas, antes de os sentir impressiva e liricamente, sarando as feridas e propondo encontros. Um filme que olha a dor de frente, mas sempre com ternura. Como diz uma das protagonistas, “eu não sou o que resta, eu existo”.
Anqa estreou no festival de Berlim, na secção Forum.


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