BEST OF
A curta-metragem é um formato com características específicas, que permite, em poucos minutos, lançar um olhar sobre o mundo, desde as pequenas peripécias humanas até às grandes questões do nosso tempo. A seleção que se apresenta neste Best Of é ilustrativa destas hipóteses e vem carimbada com os prémios atribuídos pelo júri independente desta edição do Curtas Vila do Conde. Entre a animação e a ficção, os filmes que veremos são muito diferentes entre si, mas cada um conta o seu ponto de vista sobre a vida.
Em destaque, estão dois filmes portugueses: Amélia & Duarte e Maria do Mar. Os dois ilustram o mais jovem cinema português, já que são realizados por autores novos, aqui a realizar a sua segunda ou terceira curta, mas que demonstram já um domínio importante sobre a matéria cinematográfica. Amélia & Duarte, da dupla Mónica Santos e Alice Guimarães, é uma animação muito bem conseguida – realizada em pixilação e stop-motion – que nos conta uma história de amor depois do seu fim. É uma inventiva solução sobre como o sofrimento do fim de uma relação provoca um sem fim de afetos contraditórios. A técnica de animação utilizada torna esta visão da separação muito poética e bonita, em especial pelo seu tom Technicolor da década de 50.
Maria do Mar, por seu lado, de João Rosas, é um muito bonito filme sobre o crescimento, partindo de uma premissa muito simples: um grupo de amigos, jovens adultos, encontra-se numa casa de férias. Nesse grupo, está o adolescente Nicolau, que se apaixona pela fascinante Maria do Mar. É um exercício delicado e divertido e a sua simplicidade faz com que seja uma das melhores curtas portuguesas dos últimos anos. É um filme de verão refrescante.
Estão também incluídas neste programa duas diferentes animações. Em The Present, vemos uma tradicional história do nascimento de uma amizade entre um miúdo e um cão, construída a partir de uma animação 3D irrepreensível. Por outro lado, Mynarski Chute Mortelle, utiliza uma variedade de técnicas para contar a história trágica de Andrew Mynarski, um heroi da II Guerra Mundial. As imagens são poéticas e avassaladoras do horror da guerra.
Finalmente, o programa também é composto pela curta-metragem Kung Fury, um filme que tem causado verdadeiro furor cinéfilo: trata-se de uma homenagem à década de 80, através de uma estética chunga das cores berrantes e do ruído das cassetes VHS. É divertida e iconoclasta o suficiente para sentir nostalgia, mas também horror aos belos anos oitenta.
Daniel Ribas
(Porto/Post/Doc)