Sobre "Soldado Milhões", de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa
No ano do centenário da Batalha de La Lys (7 a 29 de abril de 1918), momento mais mediático da participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa partem do argumento de Mário Botequilha para contar a história de Aníbal Augusto Milhais, um comum soldado raso do Corpo Expedicionário Português que seria honrado com a Ordem Militar de Torre e Espada, a mais alta em Portugal, pela valentia e heroísmo demonstrados no combate contra os alemães, o soldado chamado Milhais mas que valia por milhões.
A partir do percurso individual de Milhais, o filme desenvolve-se em dois blocos temporais: um situado em França, sobretudo nas trincheiras da Flandres, na época da Batalha de Lys (1918); um segundo situado em Portugal, na aldeia transmontana onde o soldado nasceu e viveu, em Abril de 1943. Alternadamente, o filme constrói-se dramaticamente a partir de dois eixos dramáticos: a relação de Milhais com os companheiros de armas, nomeadamente o trágico destino do Malha Vacas, e a relação de Milhais com a sua filha Adelaide no episódio da perseguição a um lobo.
Mais do que procurar o rigor histórico, o filme centra-se sobretudo na figura do anti-herói, antes e depois de se tornar herói contra a sua própria vontade, e na sua busca pela redenção. Há também um declarado desejo de espectaculizar a guerra em toda a sua dimensão épica e trágica, algo pouco visto no cinema português, pelo menos com os efeitos visuais e sonoros que o filme apresenta, esvaziando-a e reduzindo-a a um mero cenário para o nascimento do herói.
Paulo Cunha
Investigador