Hoje teremos a segunda sessão do Ciclo de Cinema Sueco com a exibição do filme Palme, de Maud Nycander e Kristina Lindström, às 22h00 no Passos Manuel.
Este documentário retrata a vida privada e pública de Olof Palme e o seu contexto histórico, sendo possivelmente o mais visto documentário sueco de sempre, com mais de 240000 espectadores em sala, só na Suécia.
Para a folha de sala da 44ª sessão do "Há Filmes na Baixa!" pedimos um texto crítico a Mads B. Mikkelsen, programador do CPH:DOX e membro do júri na primeira edição do Porto/Post/Doc: Film & Media Festival, que se passa a transcrever:
"Numa altura em que os Estados são geridos como negócios e os europeus estão cada vez mais cansados de política – e de políticos – será talvez um bom momento para olharmos para trás, para tempos menos intransigentes, de forma a reavaliarmos as expectativas que acabamos por formar em relação aos nossos líderes políticos atuais. Palme – tanto o homem como o filme – oferece-nos uma perspetiva histórica, mas também, de alguma forma, uma perspetiva bastante oportuna que se adapta aos tempos correntes.
A vida e a carreira política do antigo primeiro-ministro sueco Olof Palme (1927-1986) acabaram de forma inesperada e trágica quando foi baleado e assassinado no centro de Estocolmo a 28 de fevereiro de 1986 por um assassino desconhecido. O facto de até hoje este crime continuar por resolver só contribuiu para que o trauma público provocado pela sua morte se tornasse ainda mais profundo. No entanto, este mesmo facto fez com que ficassem ofuscados e esquecidos os verdadeiros sucessos de Palme, e também as suas derrotas, na construção de uma Suécia que se viria a tornar o mais socialmente igualitário dos países modernos e na afirmação da sua influência internacional.
Palme foi, durante a sua carreira política, uma figura controversa e até contraditória. Um social-democrata que vinha de famílias burguesas endinheiradas; um estadista antiquado fluente em várias línguas; um homem culto e conhecedor; um líder político apaixonado e com uma visão que ia bem para além das fronteiras do seu país, especialmente preocupado com países recentemente descolonizados do chamado “Terceiro Mundo”; e um crítico recorrente das políticas dos Estados Unidos e da URSS, as duas superpotências durante a Guerra Fria.
Palme tem tudo isto em conta, e apresenta-o de forma séria e inegavelmente contemporânea. Este filme de Maud Nycander e Kristina Lindström, um dos documentários suecos mais populares e mais vistos, é baseado principalmente numa excelente estrutura que inclui material de arquivo e uma profunda investigação histórica, tornando-se desta forma um agradável antídoto contra o tipo do documentário épico e incondicionalmente defensor do “Grande Homem”, um ramo tradicional dos documentários sobre figuras histórias que pretendem “retratar a lenda”.
A história da vida de Palme que nos é apresentada não se limita à história do “homem completo”, pois traz consigo a história de uma sociedade que Palme ajudou a criar, e das ideias e ideais por detrás dessa criação. No entanto, pela mesma altura da estreia de Palme, dois outros filmes suecos trouxeram também o mito de Olof Palme de novo para a esfera da imaginação pública. Call Girl, realizado por Mikael Marcimain, desvenda a história de um político sem nome envolvido num escândalo sexual em Estocolmo nos anos 70. Também Måns Månsson, artista e realizador cujo recente filme Stranded in Canton foi exibido no ano passado no Porto/Post/Doc, voltou ao caso não resolvido do assassínio de Palme no seu estranhamente peculiar mas hilariante e inteligentíssimo meta-documentário-que-vira-filme-policial-e-de-novo-documentário Roland Hassel. Coincidência – ou conspiração? Em qualquer dos casos, e independentemente do possível sucesso futuro na resolução do mistério da morte de Olof Palme, Nycander e Lindström fizeram um excelente trabalho de exploração dos mistérios da sua vida."
Mads B. Mikkelsen
Programador do CPH:DOX
O Ciclo de Cinema Sueco conta com o apoio da Embaixada da Suécia. Gostaríamos de agradecer também aos nossos apoios institucionais, e ao Mads Mikkelsen pela sua colaboração com a folha de sala.