O rap, essa capacidade de pensar e agir sobre o mundo em forma de verso cadenciado, pontuado pelo ritmo erguido pelo DJ, tem nas palavras a matéria prima. E as palavras carregam peso, têm poder. O rap, com essa força, mudou o mundo, afirmou-se enquanto lugar de fala para tantas comunidades que nunca antes tiveram esse espaço de intervenção. Mas o rap não nasceu de geração espontânea: na América, os poetas-griots modernos, de Gil Scott-Heron aos Last Poets, sintonizaram as palavras com uma música que era negra e urgente, inventiva e do futuro. Quando se escutaram esses discos no Bronx, uma outra revolução teve lugar. Trouxe-nos até aqui, a um mundo em que a arte de criar algo a partir de nada continua válida, um mundo em que o hip hop pode passear-se no topo das tabelas de vendas, mas continua com as raízes enterradas bem fundas num chão sagrado onde repousam todas as palavras jamais cuspidas a um microfone enquanto, lá atrás, o boom e o bap se escutavam em padrões tão perfeitos que faziam o mundo avançar. Nada mudou. Mas tudo é diferente agora. (Rui Miguel Abreu).
Convidados: Capicua, Fábio Gonçalo Silva
Moderação: Rui Miguel Abreu