Alessandro Comodin, nascido em 1982 na cidade italiana de Frioul, junto à fronteira com a Eslovénia, estudou primeiro literatura e só mais tarde cinema, em Bruxelas, na conhecida escola INSAS. Esta posição fronteiriça e transdisciplinar manifesta-se na sua obra, onde o ecletismo se cruza com uma vontade de universalidade e reconhecimento. Para a sua primeira longa-metragem, L'estate di Giacomo (2011) – vencedor do Leopardo de Ouro para jovens cineastas do festival de Locarno –, Comodin desafiou o realizador português João Nicolau a montar o filme. Aí estabeleceu-se uma afinidade entre os dois cineastas que, desde então, montam os filmes um do outro (sem excepção). Este vínculo de Comodin ao cinema português – e o seu conhecimento da língua – tornam-no numa espécie de “primo afastado” da cinematografia nacional, sendo possível encontrar ecos do seu cinema no de alguns realizadores portugueses, em particular Nicolau e Miguel Gomes. Se nesse seu primeiro filme o realizador já ensaiava as possibilidade fantasistas que se escondem no real, na sua segunda longa, I tempi felici verranno presto (2016) – estreada na Semana da Crítica, em Cannes – o fantástico afirma-se inequivocamente, com a recuperação do imaginário rural em torno de lendas e locais misteriosos. Estes seus dois primeiros filmes impõem-no enquanto autor, cujas marcas se reconhecem na crueza e dureza da sua câmara e com a recorrência dos retratos de juventude (perdida) sobre paisagem florestal. Já a sua mais recente longa-metragem, Gigi La Legge (2022) lança-o numa outra direção: a “comédia do real”. Aquilo que parecia ser um divertido documentário sobre um pitoresco polícia local transforma-se num improvável thriller burlesco Não surpreende, portanto, que Alessandro Comodin tenha escolhido, na Carta Branca oferecida pelo Porto/Post/Doc, duas comédias, onde o humor físico, o erótico, o filme de ação e de aventuras se fundem e confundem. Jacques Rozier e Roberto Benigni são algumas das suas referências, cineastas do riso e da inteligência, autores que sabem o poder da comédia e que Comodin revisita através do seu olhar documental. Quer siga os preceitos de um coming of age romântico, de um filme de fantasma ou de uma comédia policial, em cada um dos seus filmes Comodin desenha personagens guiadas pela melancolia, figuras desorientadas, em busca de um lugar onde se possam reconhecer. Por vezes encontram-no, noutras vezes imaginam-no apenas. Mas não será isso a mesma coisa?