No interior do Hermitage, o pianista e compositor russo Oleg Nikolayevich Karavaichu fala-nos sobre como é ser restituído a si próprio pelas mãos da arte, depois de atravessar as muralhas de neve que cercam o museu onde há décadas se refugia. Durante 30 anos, em pleno regime soviético, esteve proibido de tocar em público, depois de se ter apresentado a Estaline ao piano como um menino prodígio. A vida de Oleg acompanha a História da Rússia – a política, a sociedade, as artes. Para este estranho homem, a genialidade é algo indissociável do tecido da camisa que se usa. Mostra-nos com igual emoção a sua árvore favorita, agora morta, ou a rua em que moraram Tarkovski, Akhmátova e Shostakóvich. Se fosse vivo, completaria 90 anos daqui a uns meses. O filme de Andrés Duque conserva um mundo perdido no qual Oleg, de olhos fechados e delicados movimentos das mãos, nos faz entrar. (Raquel Morais)