Foi a sua relação íntima com a sua mãe, Natalia, imigrante polaca e sobrevivente de Auschwitz, o que Chantal Akerman sucessivamente retratou em pequenos vídeos domésticos, e que em "No Home Movie" se ordenam em tributo a quem a havia já deixado. Concretiza-se, através do cinema, a intenção de imortalizar: observamos os ritmos lentos de uma rotina resguardada, no interior de um apartamento em Bruxelas, e de tal forma se sentem de perto que é como se a realizadora assim cedesse a própria pele. No privilégio de um olhar privado, o espectador é testemunha do seu sentimento e o título do filme torna-se evidente – para lá das paredes reconhecidas, Bruxelas já não é ponto de retorno quando ficou a faltar quem a fazia sentir-se em casa. (Sabrina D. Marques)