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Audrius Stonys: Retratos (sublimes) do ser

por Teresa Vieira / 03 11 2019


Na edição de 2019 do Porto/Post/Doc, dedicamos um foco ao trabalho de Audrius Stonys, com a exibição de vários dos seus filmes e com a presença do realizador.

Contemplação, espiritualização, dignificação e glorificação (do potencial) do (in)visível: um olhar sobre o real.  Gestos fílmicos que nos transportam do mundano para o eterno, do humano para o divino, do real para o documental. São registos da imensidão do universal e do individual, da exacerbação do poder natural dos indivíduos e do universo que (n)os rodeia. 

A vasta obra de Audrius Stonys é um símbolo em potência e um significante para (e d)o mundo. Desde o início dos anos 1990 – e até aos dias de hoje –, o realizador lituano transporta-nos por caminhos de encontro com o “outro” mas, acima de tudo, com o cerne daquilo que implica ser humano. Stonys captura a essência do ser através de uma observação cuidada, de um olhar que reflecte fascínio e respeito por todos e por tudo aquilo que apresenta (e representa). Tal se deve, em parte, a uma herança da tradição cinematográfica lituana dos anos 60 – que tem, em Henrikas Šablevičius, uma das suas maiores formas de expressão – mas também à sua ligação com a fotografia. Estas são influências que alcançam um expoente máximo na sua obra graças à humildade, beleza e transcendência de cada retrato, de cada filme. Stonys trilhou um caminho marcado pela dualidade (aparentemente paradoxal) da representação do indivíduo como elemento divino e como elemento perdido na imensidão do mundo. Um jogo de contrastes que nos permite, no entanto, observar o mundo enquanto tal: um centro criado a partir de inúmeras – ou infindáveis – partes, uma totalidade criada a partir dos pequenos – ou ínfimos – centros que a compõem.

As imagens prevalecem e procuram descodificar, dentro da sua forma, aquilo que vemos. As melodias que ecoam nos espaços criados, as expressões que são perpetuadas na tela, são as pistas necessárias para a criação de um mundo que nos aproxima daquilo que descrevemos como “real”, mas, acima de tudo, daquilo que (realmente) somos.

 


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