O que acontece com os cérebros humanos que não pensam de forma normativa?
Quem são as pessoas neurodivergentes?
O cinema tem contribuído para a exploração de como a sociedade é visualmente representada na cultura. Uma nova geração de historiadores do cinema, que emerge do campo da história social, tem trabalhado em questões como classe, género, etnia, religião, deficiência e saúde mental. Herdando desse trabalho e com o objetivo de abrir novos espaços de debate, a edição 2022 do Porto/Post/Doc integrará um ciclo temático onde se pretende refletir sobre o conceito da neurodiversidade de forma justa e comovente. O programa Neurodiversidade incluirá os filmes: Jaime, de António Reis; Les enfants d'Isadora, de Damien Manivel; Pára-me de Repente o Pensamento, de Jorge Pelicano; Solo, de Artemio Benki; e Super Natural, de Jorge Jácome. A par do ciclo de cinema, o tema da Neurodiversidade marcará ainda o Fórum do Real, cujo painel de conversas e convidados será anunciado brevemente.
Desde os anos 90, os movimentos sociais associados às diferenças neurológicas têm vindo a florescer e contribuído para uma mudança do paradigma social. Há autores que começaram a falar de “tribos” neurológicas referindo-se, por exemplo, ao autismo ou à bipolaridade. O aumento de manifestações socioculturais, onde o cinema tem particular lugar, que vão acompanhando esta tendência têm contribuído para o combate ao estigma, diminuição da ideia de cura ou vergonha e sensibilização para a valorização de competências associadas à diversidade humana. Apesar desta evolução, a resistência à ideia de multidisciplinaridade e transdisciplinaridade entre movimentos sociais tem-se mantido por tendência de moralidade ou mesmo de falta de conceitos que provoquem a união entre os diversos movimentos sociais. Esta resistência, tem provocado uma generalizada falta de discussão e pensamento crítico. Nos finais dos anos 90, Judy Singer e Harvey Blume iniciam um debate à volta de um novo conceito que parece ter potencial para criar um intenso e profícuo diálogo – a neurodiversidade. Atualmente, podemos questionar se estaremos perante um novo movimento sociocultural na medida em que a neurodiversidade entende que não existe um tipo neurológico normal, mas antes um espectro de variações tão complexas e diversas como os genes, os ecossistemas ou as espécies. De acordo com a neurodiversidade, autismo, bipolaridade, dislexia, síndrome de down, esquizofrenia, PHDA e tantas outras diferenças neurológicas, são acima de tudo, características humanas que devem ser respeitadas como qualquer outra diferença.
O Porto/Post/Doc está de regresso à cidade entre os dias 16 e 26 de novembro. Anunciado estava já o programa de foco Nós, a Revolução - Cinema e Política nas obras de Márta Mészáros e Miklós Jancsó.
PROGRAMA NEURODIVERSIDADE
Jaime, de António Reis, 1974, DOC, 35’
Les enfants d'Isadora, de Damien Manivel, 2019, FIC, 84’
Pára-me de Repente o Pensamento, de Jorge Pelicano, 2014, DOC/FIC, 101
Solo, de Artemio Benki, 2021, DOC, 84’
Super Natural, de Jorge Jácome, 2022, DOC, 85’