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Arquivo e Pós-Memória

por Margarida Calafate Ribeiro e António Sousa Ribeiro / 31 10 2017


O programa de filmes Arquivo e Pós-Memória decorre de 1 a 3 de dezembro. O Fórum do Real acontece a 30 de novembro.

“Arquivo e pós-memória” é o tema que associa o Porto/Post/Doc e o projeto de investigação europeu Memoirs: Filhos de Império e Pós-memórias Europeias, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Memoirs estuda o impacto nas gerações seguintes dos momentos da fratura entre os países europeus de vocação imperial ultramarina e as suas colónias. Momentos que nos casos em estudo – Portugal, França e Bélgica –  se caraterizam por insurreições, guerras, descolonizações, com grandes deslocações populacionais entre os territórios e grandes mudanças nos países.  Qual o impacto, na Europa atual, da transferência de memórias do fim do colonialismo para as gerações seguintes? Em que medida é que os artistas contemporâneos revisitam o passado colonial, os regimes totalitários e as suas heranças? O que é que os motiva a evocar acontecimentos que ocorreram na sua infância ou precederam o seu nascimento? Em que medida tais abordagens influenciam a construção das democracias em que cresceram

Nos últimos anos, o cinema tem vindo a empreender uma atenção crítica a temas traumáticos dos regimes totalitários, ao tempo colonial e aos processos de rutura. Interrogando o “arquivo”, as gerações seguintes recusam-se a colocar um ponto final na história, uma história feita de silêncios familiares, hiatos, fragmentos, mas também de discursos oficiais, celebrações, narrativas escolares, fotografias, filmes, imagens. Pós-memória é esta memória discursiva dos descendentes elaborada entre a memória familiar e a memória pública, que assim define um reportório relativamente a um tema ou a um acontecimento: temos na nossa memória um conjunto de imagens do Holocausto, das prisões da PIDE, dos campos, das descolonizações, das guerras coloniais. A questão, porém, é mais complexa pois a pós-memória produz-se na interseção entre a memória familiar e a memória pública. Quando hoje um filho de um preso político ou de um desaparecido, um filho das guerras coloniais ou da descolonização encontra fotografias da família, cartas, objetos e os seus códigos de leitura estão alimentados por muitas outras coisas que já viu. Uma outra fonte para esta revisitação é o arquivo oficial, aquela memória latente, que de certa maneira desapareceu do horizonte, e que vai olhar, descobrindo-lhe as omissões e fazendo-o compreender quem é, qual o passado de onde emerge e, com ele, o seu país. A pós-memória é sempre uma interrogação que parte do contemporâneo, um apelo à construção de uma democracia com memória.

Ver: Programa de Filmes de Arquivo e Pós-Memória | Fórum do Real


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