Em Hamada, Eloy Domínguez Serén revela a vida condicionada de Sidahmed, Zahara e Taher que recusam, de modo simples, a invisibilidade da sua condição de párias emparedados entre um campo minado e o segundo maior muro militar do mundo. Do outro lado? A sua terra natal, da qual apenas ouviram histórias vindas da boca dos seus pais. Esta comunidade é o povo saharaui, que espera, há mais de quarenta anos, pela sua autodeterminação e independência total de Marrocos. As personagens passam os dias a consertar Mercedes e Land Rovers, que não podem conduzir para lugar nenhum, e lutam por mudanças políticas sem resposta, recorrendo ao poder da criatividade para denunciarem a realidade em seu redor, expandindo, além-fronteiras, a sua condição de refugiados da última colónia africana. Neste filme, vemos imagens luminosas de uma República Árabe Saaraui Democrática ainda por vir, mas já aí, nas cores e nos rostos vivos de homens, crianças e, sobretudo, das mulheres que ocupam nesta sociedade um papel preponderante na organização do dia a dia. (Luís Lima)