A 5100 metros de altitude, o céu ainda fica longe. Apesar da promessa de ouro e prosperidade, La Rinconada (cidade peruana, a mais alta do mundo) funciona, antes de tudo, como um lugar difícil onde homens e mulheres vão testar, contra os elementos da natureza e contra o seu próprio desespero, um último plano de fuga às diversas formas de miséria a que parecem condenados. Em vez de confinar o filme à beleza misteriosa das imagens, Salomé Lamas deu primazia às histórias, contadas de viva voz. Por essa razão, o som assume, neste documentário, um papel de inusitada relevância. Sobretudo na primeira parte, quando a câmara permanece imóvel e atenta, durante uma mudança de turno, enquanto a noite vai tomando paulatinamente conta da paisagem. Em La Rinconada, há mais vítimas de facadas e tiros do que de acidentes laborais, embora estes sejam abundantes. Não admira que o filme fale tanto do trabalho duro e particular dos mineiros, como da dureza, a seu modo universal, daquela vida. Desta vida. (Daniel Marques Pinto)