Para Anteu nascer, a sua mãe morreu. Alguns anos mais tarde, morreu o pai. Quando fez 16 anos, a sua avó morreu. Com os anos a passar, todos vão partindo, até que Anteu é o último homem da aldeia. Sozinho, apenas com as máquinas, Anteu constrói uma estrutura automatizada que permita que ele seja enterrado depois de morrer. “Anteu” é um filme de contrastes e opostos, às vezes conciliáveis (o som e o silêncio, o preto-e-branco e a cor), outras não (o berço e a cova), muitas vezes sobrepostos de forma a permitir a criação de novos sentidos (como na narração a duas vozes, por Gonçalo M. Tavares e pelo próprio João Vladimiro). De regresso ao Curtas, depois de “Pé na Terra” (2006), João Vladimiro propõe uma reflexão sobre a vida e a morte como ritos que transformam a paisagem, mas também uma procura do lugar do homem enquanto ser telúrico, do seu desenraizamento e do papel mediador da natureza enquanto forma de compreender o mundo na sua complexidade. (Paulo Cunha)