Uma composição sensorial e imersiva, esta é uma viagem a um local que parece parado no tempo, mas que permanece intemporal. Uma voz feminina lê um texto mitológico sobre a origem do mundo e dá o mote para um documentário-meditação sobre a presença dos elementos primitivos, como a água e a flora, e a coabitação com os nativos cujos retratos pontuam o filme. A câmara furtiva segue um barco a deslizar pelas águas calmas de um rio, como se este fosse como os anéis que revelam a história de uma árvore, num movimento que embala e nos conduz ao interior, físico e metafísico. Por fim, ao som de um cântico ancestral, a tela dá lugar a uma sequência de imagens, que surgem elas próprias como um rio que reduz o campo de ação ao essencial, desloca-se para um território poético e convoca a imaginação de cada um. Filmado em 16mm e revelado à mão, este é um filme artesanal que marca o regresso de Mónica Baptista ao Curtas Vila do Conde, depois de ter exibido outros filmes, como “Diário”, em 2011, e “Territórios”, em 2009. (João Araújo)